quinta-feira, 3 de abril de 2008

ACOLHER COMO JESUS ACOLHE


O Evangelho de João nos dá uma regra de vida preciosa: “Dou-vos um novo mandamento: Amai-vos uns aos outros. Como eu vos tenho amado, assim também vós deveis amar-vos uns aos outros.”(João 13,34)
Como viver isso, na prática? Como amar as pessoas do jeito que Jesus nos amou? Jesus nos amou até o extremo. Foi até à Cruz para nos resgatar e nos lavar de toda iniqüidade. Deu a Sua Vida por amor, por ser nosso amigo: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a sua vida por seus amigos.”(João 15,13) é desse jeito que devemos amar os nossos irmãos e irmãs que estão ao nosso lado. Isto é, precisamos amar acolhendo, ajudando, amparando, perdoando, dando tudo de nós para que os irmãos tenha vida em plenitude: “O ladrão não vem senão para furtar, matar e destruir. Eu vim para que as ovelhas tenham vida e para que a tenham em abundância.”(João 10,10).
Para entendermos o amor que precisamos dispensar ao próximo, devemos nos valer da figura do pastor que é retratada no livro de Ezequiel.
O que é que o pastor faz?
“A ovelha perdida eu a procurarei; a desgarrada, eu a reconduzirei; a ferida, eu a curarei; a doente, eu a restabelecerei, e velarei sobre a que estiver gorda e vigorosa. Apascentá-las-ei todas com justiça.”(Ez. 34,16).
Jesus é esse bom pastor que dá a vida pelas ovelhas. Ele deixa as noventa e nove no aprisco e vai em busca daquela que se perdeu e faz festa quando a encontra sã e salva. Ele é o pastor que nos conduz (Sl. 22) por, isso, nada pode nos faltar.
Somos, nós também, convidados a participar do ministério de Jesus. E isso não significa apenas orar ou fazer as coisas certas. Participar do ministério de Jesus vai muito mais além do que seguir ou ensinar regras morais. É amar o próximo como Jesus ama, é ser canal do amor de Deus para as pessoas, é estender os braços e o coração para que Deus possa se utilizar de nós no sentido de amparar e socorrer os Seus filhos.
E existe uma atitude que é fundamental para quem quer participar desse ministério. É a atitude do acolhimento. Tão necessária para a Igreja e, talvez por isso mesmo, uma grande lacuna no nosso meio eclesial.
Para refletir sobre este ponto, devemos partir do pressuposto de que não sabemos acolher. Falamos bonito, nossa pregação até convence as pessoas, oramos por cura, aconselhamos, exortamos e tantas outras coisas, mas, quando se trata de acolher as pessoas do mesmo jeito que Jesus acolhia, “a coisa” muda de figura.
Cada pessoa é diferente e vem a nós com carências, problemas e necessidades diferentes. E é dessa forma que devemos conviver. A tentativa de uniformizar todos os membros dos grupos é o que tem gerado tanta violência, discriminação e exclusão ao longo da história. As atitudes de intolerância nascem da atitude de não-aceitação do outro como ele é, com sua história, com seus problemas e aspirações.
Uns são problemáticos, vivem reclamando de tudo, gerando confusão e causando desordem. Outros são tímidos, apáticos, distraídos, não contribuem com o grupo. Alguns ficam do lado dos líderes, são os que levam adiante os projetos e levantam as bandeiras. Outros são pessoas boas só que, com atitudes pecaminosas que os expõem publicamente.
Não dá para criar uma única categoria para nosso convívio eclesial. Precisamos ser abertos a todos, para acolher, amar, tolerar, suportar os outros. Aliás, é exatamente isto o que nos diz São Paulo: “Suportai-vos uns aos outros e perdoai-vos mutuamente, toda vez que tiverdes queixa contra outrem. Como o Senhor vos perdoou, assim perdoai também vós.”(Col. 3,13)
É certo que, existem pessoas que até preferiríamos que se afastassem do nosso convívio. Elas dão trabalho e nos causam dor e sofrimento. Mas, é preciso lembrar que o Filho de Deus não fugiu da Cruz. Tais pessoas fazem parte da Cruz que precisamos carregar e são como que uma ponte que nos conduz até o Coração de Deus. Elas estão na nossa vida com a missão de nos provar e nos purificar para que possamos estar aptos para servir ao Senhor.
Devemos acolher a todos, sem distinção, sem exceção.
Outra coisa importante a refletir: Jesus acolhia a todos, amava as pessoas e só depois de amar intensamente é que dava regras morais para elas. Nós, quase sempre, fazemos o contrário. É por isso que, talvez, não consigamos êxito em nosso trabalho. Impomos um fardo muito grande nas pessoas que se aproximam dos nossos grupos e do nosso convívio. Exigimos listas de coisas, como se a santidade fosse um prêmio por seguir uma série de atitudes consideradas boas. Exigimos participação na Eucaristia, oração, jejum, não pecar contra a castidade e por aí vai e vamos enquadrando como bons e maus aqueles que aderem ou não aos nossos programas de discipulado.
É certo, que precisamos exortar, ensinar a verdade, encaminhar as pessoas. É certo falar da Missa, da oração, da Leitura da Bíblia, porém, tais coisas, só serão aceitas como algo bom e justo, depois que os irmãos houverem experimentado o amor de Deus. Antes disso, tais atitudes serão vistas como moralistas e desprovidas de valor real.
O primeiro passo para acolher é enxergar os irmãos da forma como Jesus os enxerga.
Se começarmos a meditar os Evangelhos a partir dos contatos de Jesus com os pecadores, vamos perceber que, antes de dar a norma moral “vá e não peques mais”, Ele ama profundamente a pessoa.
Ama a Pecadora (João 8). Os homens levam a pecadora para ser apedrejada. Jesus diz a célebre frase “Quem não tiver pecado atire a primeira pedra”. Os homens vão embora e ficam Jesus e a mulher, sozinhos. Ao levantar a cabeça, e vendo que todos haviam ido embora, Jesus diz: “Mulher eu não te condeno. Vai em Paz e não peques mais.” Antes de dar a ordem de não pecar, Ele fala: “Eu não te condeno”. Em outras palavras: “Embora eu não concorde com o que você fez, eu te acolho do jeito que você é.”.Jesus não ama o pecado, mas ama o pecador. Devemos proceder assim também. Quando alguém se aproxima e sabemos que precisa deixar certas coisas que vive, o primeiro passo é acolher e amar e, depois que esta pessoa, tiver experimentado a força do amor e do perdão de Deus, falar do desejo de santidade que há no coração do Senhor. Isso leva tempo. Pode durar vários meses ou até mesmo, anos. É claro que o irmão irá ouvir pregações e formações mas, cobrança real sobre a conduta, só deve ser feita, depois do alicerce espiritual que é a experiência de Deus. Isso é obra do Espírito. É o Espírito que vai converter. Nosso papel é anunciar o Evangelho, amar e acolher.
E quanto àqueles que se afastam do nosso grupo de oração?
Nós não somos juízes de ninguém. Não devemos ficar tentando descobrir os motivos que levam alguém a entrar ou sair dos nossos grupos. Cada pessoa é guiada pelo próprio Deus por caminhos que só o Senhor conhece. Há pessoas que precisam até sair da Igreja para que possa se converter de verdade. Os caminhos de Deus não são os nossos, por isso, não podemos julgar e condenar ninguém. Nossa tarefa é apenas silenciar e orar.
É certo que há pessoas que são tentadas e precisam de exortação mas, em todo caso, peçamos o discernimento ao Senhor e, como diz Santo Agostinho: “Em tudo, a caridade”.
É o amor que cura, converte e liberta. Ninguém tem o poder de converter e convencer os outros. Isso é obra do Espírito Santo. E o Espírito agirá mais livremente, quanto maior for o grau de nosso amor e de nosso acolhimento.

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