sábado, 16 de janeiro de 2010

ENCONTRO PARA MINISTÉRIOS

UNIDOS PELA TUA PALAVRA, RECONSTRUIREMOS AS MURALHAS

LER A BÍBLIA A PARTIR DE CRISTO

I – INTRODUÇÃO

A Força da Palavra de Deus quando lida sob a ótica de Cristo. Com esta frase poderíamos resumir o que vai dito nesta reflexão.

Cristo é a Palavra do Pai Encarnada. Somente olhando Sua Vida e Seus Ensinamentos é que o evangelizador atual terá condições de anunciar o Evangelho na Força do Espírito e com Poder. Para fazer isso, o homem precisa estar cheio da Graça de Deus e deixar-se transformar pela Força da Caridade que atua no Coração de Jesus.

A Igreja precisa de homens e mulheres que, cheios do Espírito Santo, anunciem o Evangelho com Poder, muito mais com atitudes novas do que, por palavras inspiradas.



II – O APREÇO DA IGREJA PELA PALAVRA DE DEUS



"Ignorar as Escrituras é ignorar Jesus Cristo", assim falava São Jerônimo. Esta frase revela o grande apreço que a Igreja sempre nutriu com relação à Palavra de Deus ao longo da História o que vem desconstruir a injustiça das acusações falsas de que a Igreja teria abandonado a Palavra de Deus em função de sua Doutrina. A Teologia brota da palavra de Deus é este o pensamento dos Bispos reunidos no Sínodo sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja quando demonstram a centralidade da Bíblia ao longo dos séculos de História na Teologia, na vida e na Catequese Católica.



Assim, no tempo dos Padres, a Escritura é o centro, como que a fonte donde se nutrem a teologia, a espiritualidade e a vida pastoral. Os Padres são os mestres insuperáveis daquela leitura 'espiritual' da Escritura, que, quando é genuína, não é destruição da 'letra', ou seja, de um saudável sentido histórico, mas é capacidade de ler no Espírito também a letra. Na Idade Média, a Sagrada Página constitui a base da reflexão teológica; para poder compreendê-la, elabora-se a doutrina dos quatro sentidos (letra, alegoria, tropologia, anagogia); na linha de uma antiga tradição, a Lectio Divina constitui a forma monástica da oração; é fonte para a inspiração artística; transmite-se ao povo nas múltiplas formas da pregação e da piedade popular. Na Idade Moderna, o afirmar-se do espírito crítico, o progresso científico, a divisão dos cristãos e o subseqüente empenho ecumênico, estimulam, não sem dificuldades e contrastes, uma mais correta metodologia de abordagem e, ao mesmo tempo, uma melhor compreensão do mistério da Escritura no seio da Tradição. Nos nossos dias, temos o projeto de renovação, baseado na centralidade da Palavra de Deus, de que foi o grande artífice o Concílio Vaticano II.



O mesmo Documento irá revelar que a Igreja se alimenta da Palavra de Deus de quatro maneiras:

  1. Na liturgia e na oração;
  2. Na evangelização e na catequese;
  3. Na exegese e na Teologia;
  4. Na vida do fiel.

Portanto, a Bíblia ocupa lugar central na Igreja e na vida do Católico. Ela é como a nascente de todas as águas e a direção que aponta é sempre Cristo e o Seu Projeto de amor.

A Dei Verbum apresenta com muita clareza o apreço da Igreja pela Palavra de Deus quando diz:



A Igreja venerou sempre as divinas Escrituras como venera o próprio Corpo do Senhor, não deixando jamais, sobretudo na sagrada Liturgia, de tomar e distribuir aos fiéis o pão da vida, quer da mesa da palavra de Deus quer da do Corpo de Cristo. Sempre as considerou, e continua a considerar, juntamente com a sagrada Tradição, como regra suprema da sua fé; elas, com efeito, inspiradas como são por Deus, e exaradas por escrito duma vez para sempre, continuam a dar-nos imutavelmente a palavra do próprio Deus, e fazem ouvir a voz do Espírito Santo através das palavras dos profetas e dos Apóstolos. É preciso, pois, que toda a pregação eclesiástica, assim como a própria religião cristã, seja alimentada e regida pela Sagrada Escritura. Com efeito, nos livros sagrados, o Pai que está nos céus vem amorosamente ao encontro de Seus filhos, a conversar com eles; e é tão grande a força e a virtude da palavra de Deus que se torna o apoio vigoroso da Igreja, solidez da fé para os filhos da Igreja, alimento da alma, fonte pura e perene de vida espiritual. Por isso se devem aplicar por excelência à Sagrada Escritura as palavras: «A palavra de Deus é viva e eficaz» (Hebr. 4,12), «capaz de edificar e dar a herança a todos os santificados», (Act. 20,32; cfr. 1 Tess. 2,13).

Dito isso, fica clara a posição da Igreja Católica no tocante ao crer que a Bíblia é a Palavra de Deus e ao ensinar aos fiéis esta proposição de Fé. Ademais, a Instrução Geral do Missal Romano nos faz enxergar a íntima relação que há entre o Cristo que fala e a Palavra que é lida a cada liturgia. Assim se expressa o Documento: "Quando na Igreja se lê a Sagrada Escritura, é o próprio Deus quem fala ao seu povo, é Cristo, presente na sua palavra, quem anuncia o Evangelho." E ainda:



A parte principal da liturgia da palavra é constituída pelas leituras da Sagrada Escritura com os cânticos intercalares. São seu desenvolvimento e conclusão a homilia, a profissão de fé e a oração universal ou oração dos fiéis. Nas leituras, comentadas pela homilia, Deus fala ao seu povo, revela-lhe o mistério da redenção e salvação e oferece-lhe o alimento espiritual. Pela sua palavra, o próprio Cristo está presente no meio dos fiéis. O povo faz sua esta palavra divina com o silêncio e com os cânticos e a ela adere com a profissão de fé. Assim alimentado, eleva a Deus as suas preces na oração universal pelas necessidades de toda a Igreja e pela salvação do mundo inteiro.



Crer com a Igreja e na Igreja é o mesmo que crer na Bíblia. Isso explica a frase inicial deste tópico. O trabalho de Evangelização que não considerar a Palavra de Deus como norma fundamental da vida do cristão e alicerce da caminhada tenderá ao fracasso. É ela que determina o caminhar e o agir do cristão. Sem a Bíblia, a vida perde o rumo e a experiência com Deus torna-se vazia.

A Carta aos Hebreus nos traz uma definição da Bíblia que é impressionante. Ela diz: "A palavra de Deus é viva, é realizadora, mais afiada do que toda a espada de dois gumes: ela penetra até onde se dividem a vida do corpo e a do espírito, as articulações e as medulas e é capaz de distinguir as intenções e os pensamentos do coração".

Somente no Poder da Palavra de Deus é que o homem de Deus pode ser formado em justiça e santidade. Sem essa centralidade, não há como ter um cristianimo vivo e capaz de formar o homem novo que a sociedade precisa enxergar. Mas, por meio dela, é possível apresentar novas propostas e ideais diante de uma sociedade corrompida e corruptora.

Alguém, no passado, se expressou sobre a nossa época como um tempo em que se fazem necessários novos modelos, pois, os que existem já foram ultrapassados. Pois bem, o único modelo que Deus colocou em nossas mãos está impresso nos livros sagrados. Ouvir a Palavra do Senhor com o coração aberto, desejoso de aprender e de aplicar os princípios divinos na vida é a única forma de ser vitorioso nestes novos tempos.

A Parhesia que a Igreja precisa, não pode brotar de belos ideais mas, é expressão concreta de uma vivência pessoal com aquilo que o Senhor nos Revelou.

Somos devedores de uma Revelação e não podemos ser omissos. A Palavra de Deus é viva e eficaz e precisamos assumir nosso compromisso ao escutá-la com devoção e amor ao Senhor.



III – CRISTO EXPERIMENTADO NA FÉ É A PALAVRA DO PAI PARA NÓS



Depois de ter falado muitas vezes e de muitos modos pelos profetas, falou-nos Deus nestes nossos dias, que são os últimos, através de Seu Filho (Heb. 1, 1-2). Com efeito, enviou o Seu Filho, isto é, o Verbo eterno, que ilumina todos os homens, para habitar entre os homens e manifestar-lhes a vida íntima de Deus (cfr. Jo. 1, 1-18). Jesus Cristo, Verbo feito carne, enviado «como homem para os homens» , «fala, portanto, as palavras de Deus» (Jo. 3,34) e consuma a obra de salvação que o Pai lhe mandou realizar (cfr. Jo. 5,36; 17,4). Por isso, Ele, vê-lo a Ele é ver o Pai (cfr. Jo. 14,9), com toda a sua presença e manifestação da sua pessoa, com palavras e obras, sinais e milagres, e sobretudo com a sua morte e gloriosa ressurreição, enfim, com o envio do Espírito de verdade, completa totalmente e confirma com o testemunho divino a revelação, a saber, que Deus está connosco para nos libertar das trevas do pecado e da morte e para nos ressuscitar para a vida eterna.



São João inicia o seu Evangelho apresentando Jesus como o VERBO. "No Princípio era o Verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus... E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós."

A Palavra de Deus é ação, é dinamismo, é Jesus Cristo. O Pai, não fala apenas. Sua voz é um ato que se chama Encarnação do Filho. Quando Deus fala, o Filho se encarna. Quando o homem, portanto, ouve a voz de Deus, Jesus torna-se carne em sua carne. É um milagre, por isso que, em cada Missa, quando o Sacerdote pronuncia as Sagradas Palavras, Cristo se faz pão e o pão se transforma no Corpo e Sangue de Cristo. Do mesmo modo, na Santa Missa e em todos os outros momentos de Fé, sempre que se escuta a Palavra de Deus, o próprio Deus, em Jesus Cristo, se faz realidade na vida daquele que escuta. Portanto, escutar a Bíblia não é um ato passivo nem algo produzido apenas pelo homem. É o próprio Espírito de Deus que vem ao intelecto do homem a fim de que, as palavras escutadas gerem a certeza da presença de Cristo em todo o ser do ouvinte. Isso explica o fato de que, sempre que lemos determinado trecho da Palavra de Deus é como se ele fosse atual, plenamente aplicável à realidade vivenciada. De outro modo, mesmo que se escute diversas vezes o mesmo trecho da Sagrada Palavra, a cada vez o Espírito dará uma nova clareza sobre algum aspecto que coaduna com a experiência do homem que crê e escuta o Senhor.

Não se pode, portanto, pretender viver os princípios da Bíblia sem considerar a necessária experiência do Cristo. Viver a Palavra de Deus é, sobretudo, conhecer Jesus e segui-lo. Fora dessa dinâmica, a Bíblia se torna pretexto para exclusão do outro, preconceito e mecanismo de fuga, segundo a linguagem psicanalítica. Não é difícil comprovar essa preposição uma vez que, a história passada e presente elenca uma série de conflitos baseados em trechos sagrados interpretados fora do contexto em que fora produzido e sem as devidas luzes sob as quais foram produzidos.

A luz que iluminou cada hagiógrafo fora Cristo. Intuindo a presença do Senhor e a Sua Manifestação ao Mundo quer sob a forma do envio do Messias Prometido, quer mirando o Mistério da Encarnação, Morte e Ressurreição de Jesus, foi que homens de Fé consignaram por escrito tudo aquilo que viram, ouviram e experimentaram.
"O que vimos e ouvimos nós vos anunciamos, para que também vós tenhais comunhão conosco. Ora, a nossa comunhão é com o Pai e com o seu Filho Jesus Cristo".

Todos os trechos da Sagrada Escritura convergem para Cristo, do mesmo modo que as águas dos rios correm para o mar. Sem ter clareza sobre este aspecto não se pode fazer teologia, catequese, experiência de Fé.

O que importa no Livro Santo não é a letra mas, o espírito da letra, isto é, a manifestação do Verbo de Deus. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento vemos um desfilar de textos e exemplos que miram Jesus como protótipo do homem e único caminho para o Pai.

A verdadeira transformação da vida de uma pessoa e mecanismo de revolução da sociedade parte da experiência pessoal com Jesus Cristo que é a Palavra do Pai Encarnada.

Dito isto percebe-se que a Bíblia, não pode ser vista como catálogo de leis, livro antigo ou fundamento de religião. Ela é uma experiência de amor. A palavra fundamental para descrevê-la é veritas, que significa verdade, fidedignidade do amor de Deus para com Seu Povo. Deus é Fiel. Ele falou e cumpriu. Deus enviou Seu Filho. "Pois Deus não enviou o Filho ao mundo para condená-lo, mas para que o mundo seja salvo por ele".

Quando, na leitura da Bíblia, Jesus Cristo é o centro da visão e o pólo de atração de tudo o que nela está consignado, a Palavra Santa recebe novo significado para nós. A visão se modifica. A letra perde o poder de ditar a minha conduta e permito ao Espírito de Cristo que me forme, a partir da letra, segundo o Seu caráter. E isso é o que há de mais importante na experiência cristã. Não irei seguir normas, leis, por causa de textos escritos mas, irei viver a Palavra por causa de Jesus e assim, todas as vezes em que minha vida contradisser a palavra eu mergulharei no oceano de misericórdia que é o Coração de Jesus e assim, terei a possibilidade de recomeçar.

A Bíblia lida sob a ótica de Cristo perde o significado de catalisador moral e passa a ser fonte perene da experiência do amor de Deus em Jesus Cristo, Palavra Encarnada do Pai. Isso significa, em outras palavras, que não terei o Livro Sagrado como manual de conduta cristã e sim, como ponte entre o eu real e o eu ideal. Eu não sou ainda o que Cristo é mas caminho para a perfeição de Cristo e a Bíblia não é um mapa e sim, um manancial onde posso beber nas fontes da Fé, rever minha postura em relação a Cristo e aos irmãos e re-orientar a caminhada sempre que for necessário. Dito desta maneira, percebe-se que a Palavra de Deus escrita não poderá ser apresentada como livro de leitura obrigatória mas, como expressão do amor de Deus que se comunica a nós por meio de palavras que podemos ouvir e compreender.

O Documento de Aparecida fala-nos de recomeçar a partir de Cristo. E esta expressão coaduna perfeitamente com o que aqui vai sendo dito. A Bíblia apresenta um maravilhoso mapa do Céu porém, somente aquele, cujo coração está em Cristo, conseguirá ler este mapa.

Dentre várias visões que podemos nutrir dos Escritos Divinos uma delas, a qual precisa ser combatida veementemente, é que conceitua a Bíblia como sendo meramente um livro. Na verdade, ela não é um livro somente e sim, a voz de Deus. No entanto, essa voz não está totalmente ordenada nos livros que compõem a Bíblia. Para escutar perfeitamente o que Deus transmite é necessário, como diz Emmir Nogueira, destrinchar o fio de ouro, isto é, a ponta em que Deus começa falar até a outra ponta onde a sua voz termina o grande discurso. Somente poderá fazer esse trabalho aquele que descobriu o caminho que conduz ao Coração de Jesus, os demais, lerão várias vezes a Bíblia, terão diversos objetivos ao fazer isso, e não conseguirão escutar a voz de Deus.

Para aprender a escutar a Deus na Bíblia precisa-se partir do Evangelho. O Evangelho nos desconcerta e, portanto, deve ser o fundamento de tudo. Quando todo o Evangelho estiver em nosso coração, todo o resto se fará. Era assim que as primeiras comunidades liam a Bíblia, a partir de Cristo; e foi com este espírito que escreveram o Novo Testamento.

Tudo tem que partir de Cristo e do Evangelho. Aqui está o programa de leitura da Bíblia e de escuta do Senhor mas, para isso, se faz necessária a oração. Somente através dela é que o Espírito Santo poderá nos transformar e nos configurar a Cristo para que, depois disso, nossa visão se amplie e possamos compreender o fundamento de cada trecho da Palavra de Deus. É um caminho de conversão. Quanto mais o meu coração estiver convertido, mais e mais, terei condições de interpretar autenticamente a Palavra de Deus e esta conversão exige uma nova mentalidade sobre Deus, sobre si mesmo e sobre os outros.

Evitar o fundamentalismo bíblico não pode ser reduzido à prática exegética pois, a base do fundamentalismo é a visão dicotômica sobre Deus, sobre si mesmo e sobre os irmãos. Isso gera preconceito, exclusão e julgamento e impedirá de ouvir sinceramente ao Senhor, mesmo que se leia toda a Bíblia várias vezes.

O programa de leitura ao qual me referi anteriormente não se restringe a uma técnica ou mesmo, a um índice de quais livros se devem ler primeiro ou depois. Este programa é o Coração de Jesus, Seu amor e Sua misericórdia. Lendo a Bíblia com os sentimentos de Cristo, sob o influxo do Espírito Santo, nossa leitura nos levará ao Céu e nos permitirá descobrir a plena vontade de Deus. O que vale, portanto, na leitura dos Escritos Sagrados, é a atitude de conversão; é a abertura do coração para perceber que a minha verdade não coincide, em muitos aspectos, com a verdade de Deus e do irmão.

A Bíblia não pode ser usada para punir, condenar, ferir ou aprisionar o outro. Ela é fonte de libertação e, somente a partir dessa visão é que se estará apto a descobrir o que Deus nos falou através dela.

Quando São Paulo fala que "toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça" ele tem em vista a ação do Espírito na vida do indivíduo que lê e ora com as Escrituras. A ninguém é permitido julgar e condenar, mesmo tendo nas mãos a Palavra de Deus.

Aqui vale uma pausa para reflexão: será que eu já li o Evangelho com atenção? Quais os pontos do Evangelho que mais evidencio? A minha interpretação do Evangelho é condizente com a palavra e com a prática de Jesus? Quais os pontos do Evangelho que eu negligencio?

Somente quando o Evangelho for aceito e assumido é que estarei condições de ler e explicar os demais livros sagrados. Sem essa experiência minha religião se tornará vazia, minha fé não será traduzida em obras, meu coração não terá o fogo do Espírito e minha oração perderá o sentido de ser. Mas se eu compreender aquilo que se passa no Coração de Jesus o amor será evidenciado, a oração será um fecundo diálogo, a fé me levará a transpor as montanhas e a minha vida ganhará um novo frescor, que somente o Espírito Santo de Deus é capaz de oferecer.



IV –O TESTEMUNHO DA PALAVRA ESCUTADA E VIVENCIADA



"Porque a palavra de Deus é viva, eficaz, mais penetrante do que uma espada de dois gumes e atinge até a divisão da alma e do corpo, das juntas e medulas, e discerne os pensamentos e intenções do coração". A Carta aos Hebreus apresenta com brilhantismo a identidade da Palavra e sua capacidade na vida de todo aquele que a escuta com sinceridade e se dispõe a praticá-la.

Dentre aqueles que freqüentam alguma Igreja ou se aproxima de qualquer agrupamento religioso podemos identificar dois modelos diferentes.

O primeiro se refere àqueles que se aproximam de alguma religião à procura de preencher o vazio existencial, encontrar respostas para sérias questões da sua existência e mesmo obter paz de espírito. Essas pessoas são sinceras em sua busca, no entanto, aquilo que fazem não é o bastante para o crescimento espiritual.

O segundo grupo se refere àqueles que fizeram uma verdadeira experiência de Jesus Cristo, por meio da Palavra. Tais indivíduos conseguem viver uma nova vida, a sua conversão é sincera, a Palavra moldou-lhes a forma de viver. São inúmeros, os testemunhos de pessoas que tiveram suas vidas transformadas quando entraram em contato, através de Jesus Cristo, no Poder do Espírito, com a Palavra do Pai.

A Palavra de Deus pode mudar o rumo da vida de uma pessoa. A Palavra de Deus pode transformar uma comunidade. A Palavra aplicada no quotidiano dos indivíduos pode transformar uma sociedade inteira.

Se vivemos num país onde a maioria se diz cristã e se os cristãos conhecem Jesus e conhecem a Bíblia, porque será que ainda persistem problemas básicos provenientes do egoísmo, da falta de caridade? Onde está a força da Palavra na vida das pessoas?

São Paulo diz: "todo aquele que está em Cristo é uma nova criatura. Passou o que era velho; eis que tudo se fez novo!" Todo aquele que se aproxima de Jesus e escuta a Palavra que Ele fala, não consegue continuar do mesmo jeito. Se a nossa vida ainda não mudou, pode ser que ainda nos falte proximidade e escuta de Jesus Cristo, o Senhor.

Muito se fala em crise na RCC e até mesmo, na necessidade de unir as expressões carismáticas em torno do mesmo ideal. O tema deste retiro fala disso: unidos pela Tua Palavra, reconstruiremos as muralhas. Porém, é preciso perceber que essa unidade não significa uniformidade. A Palavra de Deus não vai fazer a mágica da unificação. É ilusão pensar numa RCC coesa, integrada, totalmente unida. Mesmo que o nosso Movimento seja ideal do Espírito Santo, mas a Graça do Espírito supõe a Natureza de cada indivíduo, que é livre, e nem sempre dá abertura a Deus para que Ele possa agir. A RCC não é ruim, seus membros é que são humanos e falhos. Isso é natural. No entanto, o dado novo que o Espírito Santo nos traz afirma que a missão da RCC se fará cumprir em meio às tormentas e perseguições, à medida em que cada um de nós começar a viver o Evangelho que é Cristo.

Ler o Evangelho é entrar em contato com Cristo e se tornar discípulo e missionário. É como se estivéssemos lá, naquele tempo, quando Jesus estava pregando e agindo entre nós.

Cristo, no entanto, permanece conosco. E uma das formas de permanência do Senhor é a Sua Palavra dada, pregada, vivida no meio de nós. Hoje, por meio do Evangelho, posso novamente estar sentado aos pés do Senhor, conhecer Seu coração, ouvir seus ensinamentos, aprender com suas ações e assim, cheio do Seu Espírito, seguir em missão. Cristo está do nosso lado no dia de hoje, e a Sua Palavra é o meio mais seguro – embora, não único - de escutar a Sua voz. Para isso, é preciso escutar o Evangelho. Estudos, cursos, leituras fragmentadas da Bíblia... tudo isso é válido, no entanto, não podem substituir a meditação ordenada e completa dos Evangelhos, o que deve ser feito todos os dias.

Tal qual o discípulo que aprende do mestre, precisamos escutar Jesus e aprender Dele. "Tomai meu jugo sobre vós e recebei minha doutrina, porque eu sou manso e humilde de coração e achareis o repouso para as vossas almas".

A Palavra de Deus tem o poder de convencer, curar e libertar. Mas, para que isso aconteça, ela precisa partir de um coração verdadeiramente comprometido com o Senhor. Somente uma pessoa que experimentou a Palavra poderá proclamá-la com poder e autoridade. Se não houver sinceridade na busca de Deus ou clareza no anúncio, fazemos com que a Palavra do Senhor seja envergonhada, e os homens ímpios zombem dela.

Toda vez que a Bíblia é proclamada, ela traz o Poder de Deus e Jesus começa a agir. Para isso, repito, aquele que proclama precisa estar em comunhão com Deus, por meio da mesma Palavra. Caso contrário, o Poder do Senhor não irá se manifestar. O homem tem o direito de ver a Palavra de Deus em ação para que se converta e viva, para isso, a Palavra precisa transformar a minha vida, se eu quiser proclamá-la. A maior pregação é o meu testemunho pessoal. Se o homem vê que outro homem consegue viver o Evangelho, ele se sentirá incomodado e se aproximará de Deus. Mas, o que é mesmo viver o Evangelho?

A vivência do Evangelho implica em muitas coisas e a principal delas é a busca da santidade pessoal aliada à misericórdia e conseqüente aproximação do pecador.

Estou convencido de que a RCC foi chamada a ser, na Igreja e no mundo, rosto e memória de Pentecostes, na vivência do acolhimento. Desde os primórdios do Movimento, o tema da acolhida sempre foi forte entre nós. É só assistir ao filme Entre a Cruz e o Punhal ou ler o livro, o mesmo que foi lido pelos pioneiros do Movimento, para perceber como esse tema é basilar.

Este é o combate profético: da escuta da Palavra, saio para evangelizar os pobres, assumindo suas misérias e maldições, assim, como o fez Nosso Senhor. E a Igreja, no Documento de Aparecida, chama isso de Missão Continental.

Se a RCC se clericaliza e se institucionaliza, ela perde a força profética na Igreja. É preciso acontecer um movimento exógeno, para fora. E nesse sair, assumir a missão, vale a pena refletir novamente sobre duas questões cruciais: o que é santidade? O que é evangelização? Da resposta a estas duas perguntas pode surgir um movimento autêntico do Espírito na Igreja ou uma cilada do Diabo para impedir que os Filhos de Deus vivam em plenitude a força do Evangelho.

Hoje, percebe-se na Igreja dois movimentos. O primeiro é empreendido pelos grupos tradicionalistas, chamados de resistência tradicional. Essas idéias são sutis, parecem cheias do Espírito, mas vão minando o Movimento, uma vez que nascem da contestação e transformam o Evangelho em meras práticas devocionais.

O segundo movimento é o da combatividade profética. É uma evangelização feita com poder, na força do Espírito e dirigida para o amor e a acolhida. Nesse movimento, têm-se a compreensão de que a Caridade evidenciada, é a base de tudo. A Caridade é a maior oração por cura e libertação. Ela precisa ser vivida na Paróquia, no Grupo de Oração, na Família, no Trabalho. É aqui que a Palavra começa a frutificar.

Em qual desses dois movimentos seu Grupo de Oração se enquadra?



V – O ESPÍRITO SANTO AGE NO SENTIDO DE NOS CONFIGURAR A CRISTO - PALAVRA



São Paulo é enfático ao afirmar: "Por isso, eu vos declaro: ninguém, falando sob a ação divina, pode dizer: Jesus seja maldito e ninguém pode dizer: Jesus é o Senhor, senão sob a ação do Espírito Santo". Somente pelo Espírito Santo, a Palavra pode frutificar na vida do homem cristão.

A Graça cresce à medida da abertura. Os hábitos novos, esclarecidos pelo Evangelho, precisam ser instalados na Natureza do Homem e isso é ação do Espírito Santo.

Somente o Espírito Santo nos ensina:

  1. Escutar a Palavra e compreendê-la
    à "Mas o Paráclito, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, ensinar-vos-á todas as coisas e vos recordará tudo o que vos tenho dito".
  2. Confrontar nossa vida com a Palavra e nos converter-mos à
    "E, quando ele vier, convencerá o mundo a respeito do pecado, da justiça e do juízo".
  3. Viver a Palavra e anunciá-la com Testemunho
    à "A minha palavra e a minha pregação longe estavam da eloqüência persuasiva da sabedoria; eram, antes, uma demonstração do Espírito e do poder divino."


Que o Cristo nos ensine a escutar a Sua Palavra e aplicá-la em nossas vidas!

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

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