domingo, 7 de junho de 2009

ENVIAI O TEU ESPÍRITO, SENHOR!

1 INTRODUÇÃO


O homem é capaz de Deus. Com estes termos o Catecismo da Igreja intitula o primeiro capítulo da seção sobre a Profissão de Fé. Diz ainda o Catecismo:



O desejo de Deus está inscrito no coração do homem, já que o homem é criado por
Deus e para Deus; e Deus não cessa de atrair o homem a si, e somente em Deus o
homem há de encontrar a verdade e a felicidade que não cessa de procurar: o aspecto mais sublime da dignidade humana está nesta vocação do homem à comunhão com Deus.[1]





Embora sendo chamado ao gozo desta comunhão divina, falta ao ser humano a capacidade para tal comunhão. Sozinho, o homem não consegue dar os passos necessários na direção do Seu Senhor. Ele precisa de ajuda. O homem precisa do Espírito Santo que sempre conduz na direção de Cristo. “A missão do Espírito é a de levar-nos até Jesus, de fazer Jesus vivo em nós”.[2] Sem o Espírito Santo “nada o homem pode”[3]. Somente o Divino Consolador tem o poder de nos tornar cristãos comprometidos com o Reino de Deus e com a vontade do Pai. Eis um dado indispensável se queremos conhecer o Caminho do crescimento espiritual.
Nós precisamos do Espírito Santo, a força do alto, prometida por Jesus, que ficará conosco até a consumação dos séculos.

Não podemos nos esquecer, porém, que é necessário clamar constantemente o Espírito Santo, sem nunca esmorecer ou desanimar. Ele é dado gratuitamente. O Espírito é “pessoa-dom”[4], porém, precisamos suplicar constantemente a Sua Presença em nossas vidas.

Se é certo que Ele nunca nos abandona podemos perceber que, nossos pecados, apegos, preocupações e lutas diárias vão sufocando a sensibilidade à Sua Divina Presença em nós. Por isso, a necessidade de clamar continuamente que o Pai renove em nós a força do Seu Espírito para que nunca nos distanciemos do Seu amor e do Seu Poder.

Jesus diz no Evangelho que o Pai dá o Espírito a todo aquele que lho pede o Espírito.[5] Aqui está a chave para sermos cheios do Espírito do Senhor e darmos testemunho de Cristo em todos os lugares.[6]


2 O DRAMA DO HOMEM


Qual o sentido da vida humana? Este dilema acompanha a história desde seus primórdios. O que é viver? Aprofundando mais o assunto: o que é viver bem? O que é viver em Deus?

Todas estas questões são cruciais no caminho de busca da realização pessoal e de crescimento na fé. Se procurarmos as respostas entre os filósofos antigos vamos nos deparar com diferentes concepções. Para uns, o segredo da vida, da felicidade e do progresso estava na conquista de todos os prazeres. Outros, porém, negando os apetites sensitivos pensavam estar encontrando as respostas para os dramas humanos.

Mas, qual é a verdade? O que Deus pensa a este respeito? Qual o objetivo Dele ao nos criar? Poderíamos dizer assim: o sentido da vida é viver em Deus. Tomás de Kempis, a este respeito se expressou:



“Não pode [ a alma humana] saciar-te com nenhum bem temporal, porque não és
criada para gozar do que é caduco. Ainda que possuísses todos os bens
criados, não poderias ser ditosa e bem-aventurada; só em Deus, que criou todas
as coisas, consiste tua bem-aventurança e felicidade”





E Agostinho, nas confissões, faz uma revelação surpreendente. Ele diz que Deus lhe deu um coração inquieto que não repousará enquanto não repousar Nele, isto é, em Deus mesmo.[7]
Qual a finalidade do viver? Existe sentido real em passar os anos nesta Terra entre dores, gemidos e momentos de alegria e felicidade? Pensando nestas questões as pessoas, de todas as épocas e lugares chegaram a conclusões diversas e, dentre elas, podemos encontrar duas linhas de pensamento: para um primeiro grupo, o significado da existência humana não pode ser encontrado em si mesma mas é exterior ao homem. Com base nesse pensamento, deparamo-nos com o relativismo moral vigente em nosso século. Tudo é permitido ao homem na busca da felicidade extrínseca. Seria isso egoísmo ou pessimismo? Não quero ser juiz desta questão. Apenas constato, nesta meditação, a existência desse pensamento que, cada vez mais, tem ganhado força em todas as camadas da população mundial. Poderíamos sintetizá-lo como “a busca do prazer pelo prazer”. Viver, nesse sentido, seria o resultado dessa procura. Estaríamos nesta Terra para gozar tudo o que nos fosse possível. Podemos elencar como consequências deste modo de pensar:

a) O sexo desenfreado;
b) O aumento do uso de drogas entre adolescentes e jovens;
c) A violência nas mais variadas formas:
d) O ficar;
e) O divórcio que aumenta cada vez mais;
f) O aborto;
g) etc.

O homem encontra a finalidade da sua vida em si mesmo. Este é o primeiro grupo. O segundo, seria o oposto deste aqui. Aqueles que se privam dos prazeres mais elementares. Os pessimistas de plantão. Os moralistas.

E o pensamento da Igreja? E tantos homens e mulheres que se consagram a Deus? Como poderíamos enquadrá-los?

Para isso, precisamos apresentar de forma separada, um novo pensamento: o pensamento de Deus a respeito do homem, da vida, da felicidade, do fim. Em suma, Jesus Cristo é esta resposta. Somente olhando para Ele, escutando Sua Palavra e imitando Sua prática é que conseguiremos alcançar o pensamento superior a respeito da vida do homem na Terra.

Jesus vive para fazer a vontade do Pai. "Disse-lhes Jesus: Meu alimento é fazer a vontade daquele que me enviou e cumprir a sua obra".[8] Ao final da Sua vida Ele diz: "Meu Pai, se é possível, afasta de mim este cálice! Todavia não se faça o que eu quero, mas sim o que tu queres".[9]
Em Jesus, o Homem Perfeito, encontramos o modelo a seguir. Ele é o modelo. Jesus é verdadeiramente Deus e verdadeiramente Homem. Divindade e Humanidade se encontram Nele. Tudo o que Jesus faz como Homem fá-lo em sua Divindade. É a união hipostática, onde a Divindade se encontra com a Humanidade e não se separam.

Alguns, por serem mal informados, reduzem a vida e ação de Jesus como sendo expressão de Seu Poder e de seu ser Deus. E dizem: “Jesus conseguiu viver do jeito que viveu porque era Deus, logo, como eu não sou Jesus, nem sou Deus, eu posso fazer o que eu quiser, pois sou homem e sou fraco”. É certo que somos homens. É certo que somos fracos. Porém, se o Filho de Deus conseguiu, como homem, viver o mais alto grau da santidade é sinal de que podemos viver como Ele. São Paulo vai nos dizer que precisamos seguir os passos de Cristo: "Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor".[10]

Tudo o que Cristo viveu foi como verdadeiro homem. Ele foi tentato, perseguido, humilhado, ferido como qualquer um de nós e conseguiu ficar firme em Sua Missão graças ao Espírito Santo que Nele estava operando. Aqui está o segredo da santidade. Somente o Espírito pode nos conduzir à verdade plena, segundo as palavras de Jesus no Evangelho de João: "Quando vier o Paráclito, o Espírito da Verdade, ensinar-vos-á toda a verdade, porque não falará por si mesmo, mas dirá o que ouvir, e anunciar-vos-á as coisas que virão".[11]

A resposta, portanto, para o drama do homem que quer saber o que é viver feliz está basicamente aqui: felicidade é uma conquista do próprio coração. O homem é feliz quando é senhor de si mesmo, isto é, quando tem autodomínio que é uma das virtudes do Espírito Santo.
Podemos fazer tudo, mas nem tudo nos convém.

São Paulo nos traz uma Revelação surpreendente: "Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido, mas eu não me deixarei dominar por coisa alguma".[12] O problema não é o que se faz. Pecado não é determinada atitude ou prática e sim, a falta de limites que gera dependência e prisão espiritual. É preciso aprender a ter limites, a dar limites a nós mesmos. Quando isso não acontece, o homem começa a ficar preso de si próprio. Expliquemos melhor.

Nossa alma é espiritual.[13] Mas, o que é a alma? É o Catecismo da Igreja quem nos responde:



Muitas vezes o termo alma designa na Sagrada Escritura a vida humana ou a pessoa
humana inteira. Mas designa também o que há de mais íntimo no homem e o que há
nele de maior valor, aquilo que mais particularmente o faz ser imagem de Deus:
“alma” significa o princípio espiritual no homem.[14]





A alma é o princípio espiritual no homem. Em outras palavras, a alma é tudo o que sentimos, desejamos, pensamos. É a parte emocional, afetiva. É o nosso eu interior, o nosso coração. Dizer, portanto, que ela é espiritual, significa afirmar que, o seu alimento é espiritual. Por isso, o homem precisa de Deus, de religião. Por isso também, ao longo da história da humanidade o ser humano vai procurando preencher esse lado espiritual com suas crenças e tradições religiosas.

A alma é espiritual. Quando o seu portador perde a noção de limites ele vai, pouco a pouco, se afastando desse princípio espiritual vital e, consequentemente, procurando auto-preencher-se, o que não é possível. Daqui depreende-se a explicação lógica para o vazio existencial da juventude que, embora entregue aos prazeres da carne, não consegue preencher o seu espírito.

Quando não tenho a consciência do momento exato de parar de beber, de buscar diversão, com as carícias do namoro, de comer etc., vou entrando num estado de depreciação interior e depressão espiritual. Nesse momento, parece que Deus se afastou de mim. Perco o senso de intimidade com o Espírito Santo.

A Palavra de Deus nos afirma: "pois todos os que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus".[15] Isso não significa dizer que, aqueles que ainda não conseguem se deixar conduzir pelo Espírito não sejam filhos de Deus. O que a Palavra diz é que, o natural para o filho do Altíssimo Deus é que procure se deixar conduzir pelo próprio Deus. Isso é muito importante.
São Paulo fala dos frutos da carne e dos frutos do Espírito.[16] Neste capítulo, encontramos uma verdade preciosa:



Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Não abuseis, porém, da liberdade como
pretexto para prazeres carnais. Pelo contrário, fazei-vos servos uns dos outros
pela caridade, porque toda a lei se encerra num só preceito: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Mas, se vos mordeis e vos devorais, vede que
não acabeis por vos destruirdes uns aos outros. Digo, pois: deixai-vos conduzir
pelo Espírito, e não satisfareis os apetites da carne. Porque os desejos da
carne se opõem aos do Espírito, e estes aos da carne; pois são contrários uns
aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis.[17]




Para viver feliz eu preciso voltar aos valores da minha alma e do meu espírito. Toda vez que nego esta realidade, procuro encontrar em mim mesmo as respostas que nunca conseguirei dar para meu dilema existencial.

Fui criado por Deus com sede de coisas espirituais. Não pretendo aqui, dizer que as coisas naturais são ruins. O que proponho é o seguinte: o problema de tudo está na questão dos limites. Quando eu passo do sinal vermelho do meu corpo e da minha alma, isto é, no momento em que percebo que já não controlo mais meus apetites, vou me tornando escravo de todos eles. Aqui está o ponto-chave: no instante em que me excedo em algo, deixo de ser controlado pelos valores do espírito e passo a ser guiado pelos valores da carne. É nesse ponto que começa a minha escravidão. E dessa escravidão o Senhor Jesus, na Cruz me libertou e, para que essa libertação seja eficaz, Ele, constantemente, me dá do Seu Espírito Santo para me fortalecer, amar e santificar.

É ainda o próprio São Paulo quem nos afirma: "Ora, o Senhor é Espírito, e onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade".[18]

Se percebo que estou preso em mim mesmo, significa que o Espírito do Senhor não está podendo, por algum motivo que só eu posso resolver, agir.

Que motivos poderão impedir o Espírito de agir em mim?

a) Quando procuro resolver meus próprios problemas sem considerar a vontade de Deus;
b) Quando não tenho autodomínio e me deixo escravizar por meus vícios e prazeres;
c) Quando corto a minha ligação com Deus pela oração diária e constante;
d) Quando não me arrependo verdadeiramente dos meus pecados;
e) Quando não vivo o amor e o perdão aos irmãos;
f) etc.

A lista é enorme e cada um deve, no silêncio do seu santuário interior, descobrir os bloqueios ao Espírito dentro de si mesmo.

Onde está o Espírito do Senhor aí há liberdade, isto é, felicidade, gozo, vida e paz. "O Reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, paz e gozo no Espírito Santo". [19]

Se você percebe que não está vivendo essas coisas então aproveite esse instante e comece a clamar o Espírito Santo. A chave para ser cheio Dele é o clamor. Jesus disse: "No último dia, que é o principal dia de festa, estava Jesus de pé e clamava: Se alguém tiver sede, venha a mim e beba". (Jo 7,37) e ainda: "Se vós, pois, sendo maus, sabeis dar boas coisas a vossos filhos, quanto mais vosso Pai celestial dará o Espírito Santo aos que lho pedirem". (Lc 11,13)

Precisamos sempre pedir o Espírito Santo pois, por mais que saibamos de tudo isso que foi dito aqui, nem sempre é fácil deixar o coração livre. Nossa luta deve ser sempre esta, afinal, o próprio Senhor disse: "Velai sobre vós mesmos, para que os vossos corações não se tornem pesados com o excesso do comer, com a embriaguez e com as preocupações da vida; para que aquele dia não vos apanhe de improviso".[20]

Pedir o Espírito e lutar contra as nossas próprias prisões e dependências. Eis o drama do homem e a saída para ser feliz e realizado.

Somente o Espírito do Senhor pode conduzir o ser humano à plenitude da vida. Diz o Salmo: "Se enviais, porém, o vosso sopro, eles revivem e renovais a face da terra".[21] O que falta neste mundo é homens e mulheres cheios do Espírito Santo, pessoas transbordantes do Espírito de Cristo.

O Senhor não dá um espírito qualquer. Ele nos dá o Seu Espírito. E ele gera a felicidade no coração do homem de modo que, podemos afirmar com toda segurança: é possível ser feliz! O Espírito Santo de Deus torna os homens felizes e realizados!

Todo vazio existencial, cansaço, miséria humana e depressão podem cair por terra diante da presença do Sopro de Deus. Ele que pairava sobre as águas originais[22] quer repousar sobre cada um de nós para nos restaurar segundo o projeto do Senhor.

Todos nós temos o Espírito Santo porém, é preciso dar-se conta disso e pedir ao Pai e a Jesus que liberem o poder do Alto que mora dentro de nós para que possamos ser felizes, contentes e realizados enquanto peregrinamos neste mundo tortuoso.

Talvez, muitos de nós, tenhamos perdido o contato com o Senhor e não percebamos esta triste realidade de falta de comunhão. Continuamos na Igreja, indo à Missa, participando dos movimentos mas, nos falta algo. Falta aquele gosto, aquela alegria de servir e amar a Deus acima de tudo.

Quando busquei tanto ser feliz passando dos limites fui perdendo a sensibilidade espiritual e o contato com Aquele que é o centro da minha alma, isto é, o Espírito Santo. Dar-se conta desta triste realidade é o passo fundamental para iniciar uma nova vida e o próximo passo será sempre clamar, suplicar, implorar que Jesus e o Pai derramem o poder do Espírito sobre mim.


3 CONSIDERAÇÕES FINAIS


Definitivamente, o homem não é senhor dos seus caminhos. O livro dos Provérbios afirma: "Há muitos planos no coração do homem, mas é a vontade do Senhor que se realiza".[23] Por mais que tentemos, nunca conseguiremos criar uma nova maneira de ser feliz que não seja aquela indicada pelo próprio Deus. Tudo o que passa além disso, é falsidade e ilusão. Coisas que o vento apaga com facilidade.

Esta mensagem parece dura. E é dura. Não estamos acostumados a abrir mão das coisas em vista da própria realização. Queremos mais e sempre mais. Por isso, que não conseguimos ser felizes.

Quero dizer que é plenamente possível ser feliz vivendo segundo o Evangelho e com a força do Espírito Santo de Deus que foi enviado por Jesus no dia de Pentecostes e que, neste momento, continua sendo derramado sobre todos aqueles que têm o coração sedento por vida e paz.


NOTAS:


[1] Catecismo da Igreja Católica (C.I.C.) n°27
[2] Frei Elias Vella,2005
[3] Sequência de Pentecostes
[4] JOÃO PAULO II. Encíclica Dominum et Vivificantem. n°10
[5] Lucas 11,13
[6] Cf. Atos 1,8
[7] Cf. SANTO AGOSTINHO. Confissões n°1
[8] João 4,34
[9] Mateus 26,39
[10] Efésios 5,2
[11] João 16,13
[12] I Coríntios 6,12
[13] Cf. C.I.C. n° 1703
[14] C.I.C. n° 363
[15] Romanos 8,14
[16] Cf. Gálatas 5,19-23
[17] Gálatas 5,13-17
[18] 2 Coríntios 3,17
[19] Romanos 14,17
[20] Lucas 21,34
[21] Salmo 103,30
[22] Cf Gêneses 1,2
[23] Provérbios 19,21

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