sábado, 27 de setembro de 2008

O OLHAR QUE SALVA O HOMEM


Os ícones tentam retratar as realidades da fé. Assim é com “A Trindade” de Rublev, um monge e iconógrafo russo que tentou representar, a partir dos traços dos seus desenhos, a mais revolucionária das verdades: Deus é amor que salva o homem.


Não conseguiríamos, se assim o quiséssemos, fazer um comentário completo sobre este ícone, verdadeira obra-prima da espiritualidade católica. No entanto, meu propósito neste breve artigo é fixar alguns dados que, a meu ver, são principais no estudo da obra em questão.


No centro de tudo está um cálice com o Cordeiro Pascal que salva a humanidade. A mesa está posta para todo aquele que quiser se aproximar. Cristo é o único Caminho que leva à Salvação. Ele é o Cordeiro de Deus que salva a humanidade.


É sobre este ponto que quero me deter nesta meditação.


Sem Cristo, não há Salvação, no entanto, à mesa estão o Pai, o Filho e o Espírito. Os três apresentam o Cordeiro. A Obra é conjunta. A Salvação é trinitária. E como é que o ícone apresenta a Salvação?


Vejamos a disposição dos personagens. O Filho, do centro e o Espírito, à direita, se voltam para o personagem da esquerda, que lembra o Pai. Seus olhares se voltam para o Pai, contudo, o Pai, olha para o Filho.


O Pai ama o Filho e O contempla. Seu rosto está voltado contínua e perenemente para o Filho. Seu olhar está sobre o Filho. Por sua vez, o Filho se devolve ao Pai em amor. Contempla-o. Expressa amor no olhar. Se abandona ao Pai neste colóquio terno e doce de amor.


O Pai sempre olha para o Filho. O Filho sempre olha para o Pai. É neste amor que une o Pai e o Filho que o Espírito Santo age no sentido de aplicar aos homens os efeitos salvíficos desse amor do Pai pelo Filho e do Filho pelo Pai.


Olhando perene e constantemente o Filho, o Pai vê a cada um de nós. O Pai vê a humanidade a partir do rosto de Cristo e assim, não encontra em nós, as nossas imperfeições, enxergando a bondade e o caráter de Cristo e apagando tudo no seu infinito amor.


É certo que continuamos, aos olhos de Deus, com as nossas feições, contudo, a nossa essência divina, a centelha de amor, a imagem de Cristo em nós é o que nos define diante do Pai, é a nossa digital divina. Quanto mais nos identificamos com Cristo mais e mais nos sentimos envolvidos de amor de Deus.


Essa obra não é fruto da vontade ou esforço humano. É a própria Obra da Salvação. Cristo dá a Sua Vida para nos cobrir. O olhar de Cristo, a face de Cristo, o amor de Cristo é o que nos dá as condições para nos aproximarmos do Pai e estarmos diante Dele.


Diante do Pai somos perfeitos, independente dos nossos pecados. O amor do Pai cobre nossos pecados e Ele contempla Cristo, o Filho, em nós. Aquilo que nos falta para ser santos, Cristo, em Sua infinita misericórdia, completa.


Até Satanás se inclina diante de nós, uma vez que expressamos a face de Cristo.


Quando é que a pessoa perde a Salvação, isto é, deixa de transparecer Cristo? Quando, livre e conscientemente, se afasta do perdão e da misericórdia de Deus. Deixa de reconhecer as próprias faltas e odiar o próprio pecado.


A Salvação é gratuita. É Cristo quem age em nós, aplicando os efeitos da Cruz, isto é, emprestando-nos Seu Caráter e nos preenchendo com Seu amor.


Não existe pecado, não existe situação que o Cristo não possa atingir com Seu olhar de amor e misericórdia.


Que o Espírito Santo nos guie constantemente na Busca dessas verdades.

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