domingo, 31 de agosto de 2008

O CAMINHO DE JESUS E DOS DISCÍPULOS


I – A VOCAÇÃO DE JEREMIAS

O profeta Jeremias, na primeira leitura de hoje, revela-nos a situação de sua vida: Ele foi seduzido por Deus. Violentamente, Deus o seduziu e ele não conseguiu resistir.
É uma acusação dura que o profeta dirige a Deus. Deus veio e seduziu o profeta. Seria mais ou menos como a jovem inexperiente que não se sente em condições de resistir às insinuações do rapaz. Pelo tom do profeta, parece que Deus agiu de má fé Jeremias. Chamou-o, levou-lhe a assumir uma missão árdua, difícil, e agora, o profeta se encontra numa situação dificílima. Ele anunciou a palavra e “a palavra do Senhor tornou-se [...]fonte de vergonha e de chacota o dia inteiro.”
O anúncio profético traz perseguições e sofrimento ao profeta e agora, ele se vê em crise. O profeta é alvo da violência e da opressão que denuncia e isso lhe é muito caro.
Porém, Jeremias não acusa apenas. Ele proclama as maravilhas que a Palavra realiza nele. “Senti, então, dentro de mim um fogo ardente a penetrar-me o corpo todo: desfaleci, sem forças para suportar.”Uma força maior o invade, o impele por isso, clama, acusa e confia.
Clama a Deus. Acusa-lhe de ter-lhe seduzido. Confia no Senhor que o chamou.
O amor de Deus chama o profeta e lhe confia uma missão. Esta experiência é tão profunda que o profeta não consegue resistir. Ele se decide e vai em missão. Com sua vida anuncia a palavra do Senhor que é, em contrapartida, denúncia de toda opressão e injustiça praticada pelos poderosos, muitas vezes, até em nome de Deus. Sua vida é profundo anúncio da Palavra, por isso mesmo, sofre, em sua pele, os efeitos do mesmo anúncio. A perseguição é o resultado direto do seu compromisso com a causa de Ihwheh. Isso traduz o que Jesus diz no Evangelho: "Basta ao discípulo ser tratado como seu mestre, e ao servidor como seu patrão. Se chamaram de Beelzebul ao pai de família, quanto mais o farão às pessoas de sua casa!" (Mt 10,25)
O discípulo se identifica com o mestre pelos efeitos da pregação em sua própria vida, a saber: perseguições, dores e sofrimentos por causa da palavra anunciada e das injustiças denunciadas.
Mas, ao final de tudo, a confiança no Senhor faz com que o profeta continue firme em seu propósito e perseverança.

II – O VERDADEIRO CULTO

Em continuidade com o texto de Jeremias, São Paulo nos vem revelar qual é o verdadeiro culto que agrada a Deus. Por causa da grande misericórdia, do grande amor de Deus, o cristão é convidado a oferecer-se a Deus. Só consegue se doar, quem está verdadeiramente livre. O desapego é fundamental para o cumprimento da missão. "Porque, quem quiser salvar a sua vida, perdê-la-á; mas quem sacrificar a sua vida por amor de mim, salvá-la-á". (Lc 9,24). Somente quem está livre, no amor de Deus, pode doar-se livremente, por amor a Deus e ao Seu povo e por causa desse amor manifestado a nós.
“Como agradecer ao amor de Deus? No Antigo Testamento, de modo geral, a gratidão manifestava-se por meio dos sacrifícios (animais) oferecidos a Deus. A grande novidade que Paulo introduz é esta: não mais sacrifícios externos, mas o nosso corpo é o sacrifício vivo, santo e agradável a Deus. Esse é o culto espiritual dos cristãos. O corpo humano é o centro das relações com Deus, com as pessoas, com as coisas... desaparece o antigo culto, baseado no templo, sacrifícios e sacerdócio. Cada cristão é, ao mesmo tempo, sacerdote, oferta e templo, oferecendo-se a si próprio como único sacrifício que Deus aceita... Esta é a grande meta do ser cristão... ser cristão é não se conformar com os modelos deste mundo”(REVISTA VIDA PASTORAL,n 261).

III – JESUS, NOSSO MODELO

Para ser como Jesus, e doar-se livremente pelo Reino de Deus, é preciso assumir a Palavra com todas as suas conseqüências, penhorando o próprio corpo como verdadeiro lugar do culto, do sacrifício, mudando a própria mentalidade.
Sem essa mudança de mentalidade não há como assumir o projeto de Deus. É sob esta ótica que podemos compreender a repreensão de Jesus a Pedro: "Mas, voltando-se ele, olhou para os seus discípulos e repreendeu a Pedro: "Mas Jesus, voltando-se para ele, disse-lhe: Afasta-te, Satanás! Tu és para mim um escândalo; teus pensamentos não são de Deus, mas dos homens!" (Mt 16,23).
Domingo passado, no início deste episódio, que Mateus narra, Pedro reconheceu Jesus como o Filho do Deus Vivo e recebeu a missão de apascentar a Igreja nascente. Hoje, Jesus repreende Pedro, pois, ele revela que seu pensamento é igual ao pensamento do mundo. Pedro quer que Jesus seja conforme seus pensamentos e, no entanto, somos nós, que devemos nos tornar semelhantes a Jesus.
Somente quem perde sua vida, a encontra. Perder a vida por causa de Deus, do Evangelho, dos irmãos, é a única maneira de salvá-la. No Reino de Deus, somente quem perde, se torna ganhador.
O verdadeiro cristão é aquele que se compromete completamente com o Reino de Deus, assume os pensamentos do Senhor e segue o mesmo caminho de Jesus que é o caminho da cruz, da perseguição por causa da palavra, da morte para obter a ressurreição.
Somente alcançará o Reino de Deus quem, com a própria vida e com o auxílio da graça de Deus, resistir aos poderes da morte e assim, seguir firme no anúncio do Reino, acreditando na novidade da Ressurreição.